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CAROLINE HABER MORA NOS U.S.A. E NOS CONTA SUAS VIAGENS PELA ÁFRICA E SOBRE A VIDA DOS IMIGRANTES BRASILEIROS NOS ESTADOS UNIDOS.

 


MINHA VIAGEM PELA ÁFRICA CAROLINE HABER


10 de abril 2009


Quênia: País localizado ao leste do continente africano composto por 8 províncias e 42 tribos.
Capital: Nairobi “um lugar de águas frias”. 4,5 milhões de habitantes
Língua: Ki-Suahili – todas as criancas aprendem, obrigatoriamente, ingles e ki-suahili na escola desde os primeiros anos.
Número de habitantes: 36 milhões
População: 99% negros, sendo 98% africanos. São 99% cristãos, 1% muçulmanos.
Independência: de 1898 a 1963, Quênia foi colônia britânica. Era chamada “British East Africa”.
Moeda: xelim queniano (Ksh)
Meu nome é Caroline e vou contar pra vocês um pouco do que meu marido e eu vivemos, na África e na Europa.
A viagem se iniciou no dia 13 de março de 2009 e acabou no dia 8 de junho de 2009.
Nós viajamos por mais ou menos 25 cidades, num total de 15 países e, sem dúvida, a fase mais emocionante de todas foi o Quênia.
Tudo sobre a África é extremamente interessante, a cultura, a dança, a música, a comida, o estilo de vida, a história de dor e sofrimento que resulta na ignorância do povo, de forma geral, e na falta de perspectiva para o futuro. Também há o contraste e as semelhanças com a nossa história e a nossa cultura.
A exemplo disso, o menino Mark, um dançarino queniano que eu conheci e que me deixou emocionada quando mencionou sobre uma danca brasileira que ele aprendeu, chamada capoeira. Apesar de capoeira ser um nome Tupi, que significa “mato ralo”, ela tem raizes nas artes marciais praticadas por tribos africanas, há mais de 500 anos.
Outras semelhanças com a nossa história envolvem assuntos não tão simpáticos como a capoeira. Envolvem, sim, pobreza, exploração e sofrimento.
De uma certa maneira, diferentes de nós, brasileiros, os quenianos ainda não evoluiram para um futuro de progresso e desenvolvimento.
Mas o passado é muito similar, apesar de mais recente que o nosso. O Quênia foi também colonizado por homens brancos. Também passou pela tentativa de colonização por Portugal que acabou sendo derrotado pelo Reino Unido, que, na metade do século XVIII, tomou conta do pais, com o intuito de explorar seu povo e suas riquezas. Recentemente, em 1963, o Quênia conseguiu sua independência e teve seu primeiro Presidente, o Kikuyu, Jomo Kenyatta.
O país, vem lutando para alcançar estabilidade financeira e social mas ainda é lugar das mais tristes formas de pobreza e são muitas as acusações de corrupção no governo.
Por tudo isso, decidimos prestar trabalho voluntário no Quênia. Usar nosso tempo para ajudar os menos favorecidos, na medida do possivel, pouco a pouco, tentando fazer alguma diferença.
Estamos em Jumhili, um bairro de Nairobi, capital do Quênia. Jumhili fica entre a área mais rica e a área mais pobre da cidade.
Jumhili não tem asfalto em sua maior parte. As casas não têm água quente, embora possuam água encanada e eletricidade. O sistema de aquecimento é extremamente caro, sendo que a maior parte da população não tem condiçoes de arcar com o custo.
Ficamos hospedados na casa de “Grace”. É uma casa de 5 quartos, sala, cozinha e 3 banheiros. As casas em Jumhili tendem a ter muitos cômodos, porém muitas vezes são limitadas em espaço.
No nosso primeiro dia em Nairobi, aproveitamos nosso tempo, antes de ir para a tribo, pra conhecer as redondezas. Caminhamos por pelo menos 3 horas e descobrimos muitas coisas interessantissimas.
Pedro, um voluntário português, nos guiou na caminhada.
Caminhamos por Ngong Road, uma das mais importantes estradas de Nairobi. Ela conecta os diferentes setores da cidade bem como importantes rodovias e cidades vizinhas.
Seguimos até o mercado Maasai. Os Maasai são um povo, uma tribo. Aliás, uma das tribos mais antigas do Quênia.
É com essa comunidade que vamos viver por um mês, numa vila chamada Kimuka.
No mercado Maasai sao vendidos produtos artesanais confeccionados na tribo. Geralmente colares e pulseiras de miçanga, pinturas em tecido, bacias de cerâmica,etc.
Entramos num shopping center bem próximo ao mercado e notamos que a presença de pessoas brancas era bem marcante. Também notamos que os preços de tudo comparados aos preços dos vendedores de rua, era pelo menos 10 vezes maior.
Nairobi possui muitas feiras ou mercados de rua. É a única solução para a sobrevivência da grande maioria da população.
Comecamos a entender as diferenças sociais.
Nas áreas mais pobres, pessoas brancas são raras, e quando as encontramos, sabemos que são voluntários.
Voluntários vêm de todos os países do mundo para todos os paises africanos. É vibrante a quantidade de ajuda oferecida por pessoas não-africanas. O suporte nem sempre precisa ser financeiro. Há sempre algo pra ser feito ou consertado ou implementado. Sempre há uma maneira de se ajudar e, baseado nisso, pessoas vêm de todas as partes do mundo com o intuito de oferecer um pouquinho de si a um lugar onde a única coisa a se receber em troca é um bem maior, o senso de caridade e solidariedade.
A chegada de um “mizungo”, o que significa “homem branco”, é motivo de alegria para crianças e adultos. A presença de um homem branco, pode significar festa, alimento, presentes e, principalmente, dinheiro.
Num lugar condenado à miséria, qualquer ponta de esperança é recebida de braços abertos e com muito entusiasmo, pela população queniana.
As organizações não-governamentais, filantrópicas e de iniciativa privada, são as maiores responsáveis por projetos educacionais, orfanatos, escolas e assistência familiar, no Quênia.
Projetos governamentais, às vezes, acabam saindo caro para a população, como um complexo habitacional construido em Kibera, que hoje esta completamente abandonado porque a população da favela não pode arcar com custos habitacionais, como água e luz. Esse complexo é composto de, mais ou menos, 15 prédios de 5 andares cada um.
Kibera é a maior favela da África e uma das áreas mais problemáticas do mundo, com, estimadamente, 1 milhão de pessoas vivendo em condições mais do que precárias.
Nós caminhamos pelo meio da favela até chegar à escola e ao orfanato onde nosso amigo, Pedro, voluntaria.
Nunca, em momento algum, nos sentimos ameaçados ou inseguros. No Quênia, se alguém rouba, seja qual for o motivo, um grupo de pessoas atacam o ladrão e o espancam, queimam ou apedrejam até a morte. O termo usado em inglês pra essa situação é “Mob”. Atacado pela Mob, seria, em português, atacado pela plebe, pelo povo, que faz justica com as próprias mãos ou “mob law”, a lei da plebe.
Ficamos com o paradoxo entre as acusações de corrupção no governo pela midia e a atitude da populacao em relação a roubos e furtos. Para grande parte dos quenianos, isso é ato odiado e repugnado.
A população teme a ação da polícia e não confia na ação do governo.
Observando o lugar, descobrimos muitas coisas interessantes sobre o estilo de vida e as características do povo.
Mesmo nas áreas paupérrimas, as pessoas estão sempre sorrindo e sempre fazendo algo pra tentar sobreviver. No fim dia, o fruto do trabalho barato, tem que estar sobre a mesa para alimentar os filhos.
O dia é curto, não há eletricidade, então todo mundo começa a trabalhar muito cedo, assim que o sol nasce.
Entre as ruelas da favela há feiras de produtos gerais, como roupas, utensílios domésticos e produtos alimentícios. Tudo é extremamente barato.
Dentre os alimentos mais vendidos estão, laranja, tomate, cebola, cenoura, batata, arroz, feijão, milho, manga, abacate, abacaxi.
Dinheiro no Quênia, não vale muito. Para se ter uma idéia, 1 real é igual a 42 xelins quenianos.
Uma banana, na favela, custa Ksh5 (R$0,12), uma calça social, Ksh150 (R$3,57), um prato de feijão com couve, Ksh40 (R$0,95)
Um professor de escola pública nao ganha mais de Ksh3500 ou Ksh 4000 (R$83,00+) por mês e o aluguel de uma casa chega a ser por volta de Ksh5000 ou Ksh6000 (R$120,00+) por mês. Sendo assim, a melhor opção é morar na favela, onde se pode arcar com os custos e pelo menos comprar alimento para a familia.
Não existe controle de natalidade, de maneira que as mulheres têm muitos filhos. Vêem-se muitas crianças correndo pelas ruas em todos os lugares. As escolas são geralmente superlotadas e também os orfanatos.
Um dos grandes problemas sociais no Quênia é a Aids e a taxa de mortalidade que gera, resultando em criancas órfãs. Os orfãos não têm para onde ir. Os orfanatos tornam-se, entao, super lotados e não há recursos para todos.
Um dos orfanatos que visitamos, Mama Tunza’s Care Center, acolhe 89 crianças em uma casa de pau, de dois cômodos mais um mezanino, onde as salas de aula foram construidas.
Durante o dia o orfanato dobra e se transforma em escola, onde 200 crianças lutam para aprender alguma coisa sobre o mundo e sobre seus futuros.
Missão praticamente impossível diante das condições apresentadas.
As 2 salas de aula, não possuem carteiras ou louzas decentes. Obviamente não há eletricidade e o lugar é muito escuro, devido à localizacao, o que prejudica ainda mais as criancas, que só podem contar com a iniciativa de voluntários que vão e voltam trazendo boa vontade e carinho.
A hora de dormir, também é hora de dividir: 89 crianças dividem 27 camas.
Em agosto a construção de um novo orfanato foi concluída Entretanto, não há mais doações, de maneira que as crianças não podem ser transferidas por ausência de funcionários e alimento.
Há uma campanha acontecendo neste momento, com o objetivo de arrecadar fundos para a transferência das crianças.
Embora as condições sejam muito complicadas, os voluntários fazem um bom trabalho tentando ao máximo zelar pela saúde e educação das crianças enquanto podem e o quanto podem.
O governo nao oferece nenhum suporte e a direção do orfanato não tem o mínimo conhecimento ou atitude necessários para gerenciar um lugar de características e natureza tão delicadas.
No final da historia, vimos com os nossos próprios olhos o quão imensa é a miséria e o quão desigual o mundo pode ser.

KIMUKA
Kimuka e o nome da vila onde nós começaríamos nosso voluntariado.
Em Kimuka a maioria dos habitantes são Maasai.
Os Maasai são um povo muito simples, de costumes extremamente retrógrados, que ainda sao passados de geração a geração.
Suas vestimentas são muito peculiares, constituídas basicamente de cangas, para as mulheres, e mantas, para os homens.
Os Maasai são um povo guerreiro. As mulheres cuidam da casa, incluindo as plantações. Os homens são caçadores de leões e pastores de cabras e ovelhas.
A religiao é cristã. Os Maasai são muito religiosos. Nas festas de familia ou de confraternização, pela manhã e aos domingos, os Maasai cantam em celebração a Deus.
Na tribo, as mulheres trabalham para os homens, mantendo a casa. As crianças meninas, fazem todo o serviço de casa; os meninos não fazem nenhum serviço considerado “de mulher”.
As casas, ou manyatas, são feitas de uma mistura de lama, galhos e grama seca. Geralmente são cobertas de sapé. A foto abaixo mostra uma manhata mais moderna, com estrutura de madeira e coberta com folhas de metal.
A agricultura é baseada em grãos, como milho e feijão.
A alimentação é basicamente constituida por vegetais, como cenoura e batata com arroz, feijão com milho, chapati (tipo de panqueca feita de farinha de milho) e ugali, que é uma mistura de água quente e farinha de milho.
A economia é gerada pelo pastorio de cabras e ovelhas e criação de gado.
O clima na savana, na maior parte do Quênia, é seco e árido, o que na maioria das vezes compromete a criação de gado trazendo muitos problemas ás familias, que podem chegar a perecer por ter sua única fonte de renda condenada pela seca.
A comunidade não possui rede de esgoto ou energia elétrica.
Cozinham em pequenas fogueiras de pedra, usando galhos, como seus bisavós faziam há gerações. Muitas famílias também possuem um pequeno fogareiro de ferro onde queimam carvão. A comida geralmente é feita em uma única panela, misturando todos os ingredientes.
Em família, os adultos mais velhos são servidos primeiro na hora das refeições; são os primeiros a se banhar e a receber a xícara de chá. Tudo é feito em grupos. Tudo é dividido.
Uma caminhada pelas redondezas pode ser uma caixinha de surpresas. Vinte minutos de caminhada da casa de nossa “Mama”, Virgina Turasha, até a escola, nos ofereceu a chance de admirar 28 girafas que resolveram vir até a vizinhança para degustar das folhas de árvores de acácia, repleta de espinhos.
Temos que tomar cuidado para não pisar nas temidas formigas do Quênia. Elas estão em absolutamente todos os lugares. Observamos o trabalho árduo das formigas dia e noite. Era assustador
Outros tipos de animais nas redondezas são babuínos e onças. Vimos babuínos, mas não vimos onças porque elas só vagam durante a noite. Sorte a nossa, diga-se de passagem.
Leões e elefantes costumavam viver nesta área do Quênia, mas com o crescimento da comunidade, migraram para o sul do pa´ss, onde há uma gigante reserva de animais selvagens, chamada Maasai Mara National Park.
O sul do Quênia é tambem, berço da tribo Maasai. Há uma comunidade muito grande ainda vivendo nas terras do parque. Caçadores de leões e criadores de gado.
Caçar leões, para os Maasai, é sinal de força, vitalidade e além disso, parte de um ritual que marca a saída da puberdade para a vida adulta. Eles têm como regra, não matar as fêmeas, os leões doentes e os filhotes.
Há pelo menos 10 anos, regras foram feitas pelos Maasai e pelo governo, visando a preservação dos animais. Os Maasai não são mais encorajados a caçar sozinhos, como era antes. Hoje em dia, eles vão em grupos de pelo menos 10,
Quanto mais aprendemos sobre a comunidade, mais prazeiroso se torna o dia a dia entre eles.
Aprendemos algumas palavras, como Supa (Oi), Olesere (tchau), ashe oleng (muito obrigado) dentre outras.
A relação de respeito entre mais novos e mais velhos é muito marcante. As crianças sempre abaixam a cabeça em sinal de respeito e o adulto coloca a mão em suas cabeças como sinal de benção. Uma mulher adulta, quando encontra um homem que poderia ser seu pai, também abaixa a cabeça em sinal de respeito.
O que impressiona no estilo de vida da tribo e o senso de irmandade das crianças, principalmente.
Uma das qualidades mais maravilhosas das crianças, é saber dividir. Tudo o que as crianças de Kimuka possuem, é pouco ou nada.
Quando têm algo, fazem questão de dividir com todos os irmãos ou quem quer que esteja próximo. Seja comida, seja chá, sejam roupas, canetas na escola ou bola de meia. Tudo é dividido porque não há o suficiente para todos. E elas sabem disso. As crianças têm o mais puro coração que se pode imaginar.
E, principalmente, adoram aprender.
Todas as vezes que entramos em uma sala de aula sem professor, as crianças estavam sentadas, estudando. Elas são curiosas, interessadas, obedientes e esforçadas. É simplesmente uma satisfação, ver o valor que elas dão à escola. Para elas, a escola é o bem mais precioso.

 

 

 


MINHA VIAGEM PELA ÁFRICA PARTE 2 CAROLINE HABER


A ESCOLA


Kimuka Primary School, foi a escola onde trabalhamos durante nosso voluntariado. Há por volta de 500 alunos do pré à 8ª série.
O governo estabelece que os alunos a usem uniforme e raspem a cabeça.
A escola sempre precisa de alguma coisa. O dinheiro enviado pelo governo nunca é suficiente para suprir as necessidades de todos os alunos.
Algumas crianças da comunidade não vão à escola porque os pais não podem pagar pelo uniforme e por sapatos.
Para a escola primária, os uniformes custam Ksh1200 (R$28,57) por ano, e os sapatos custam por volta de Ksh500 (R$11,90).
O ensino, de um modo geral, é muito básico, mas definitivamente essencial para o desenvolvimento intelectual das crianças.
Muitas crianças de 13 ou 14 anos, não sabem distinguir os continentes, nem mesmo o africano. Não têm idéia de sistema solar ou porque o dia tem 24 horas e o mês, 30 dias. As crianças ficaram fascinadas, um dia, em aula, quando Phil explicou o movimento de rotação da Terra e com isso a formação dos dias, meses e anos.
Um dia, explicando para as crianças sobre as estrelas e o surgimento do universo, uma delas nos perguntou se era verdade que os dinossauros moravam nos Estados Unidos.
Nossa surpresa foi tamanha que ficamos em silêncio por um minuto e então explicamos, com muito cuidado, a história dos dinossauros.
O espanto cessou quando entendemos que a maioria das crianças nunca, nem mesmo ouviram falar de dinossauros durante a vida toda. Nunca assitiram TV ou, quem dera, aprenderam sobre a teoria de origem do universo.
Aconteceu, que um dia, essa menina teve a chance de assistir na TV, um programa sobre dinossauros nos Estados Unidos. Isso a fez pensar que aquilo era parte da nossa realidade. Tanto foi um espanto para nós, a pergunta, quanto foi para ela, saber que dinossauros nao existem mais há milhões de anos.
Mesmo diante das barreiras, é contagiante a sede de aprender daquelas crianças e o quanto elas sao curiosas.
Mesmo em relação à cor da nossa pele, ao nosso cabelo, de onde viemos, como chegamos lá, quanto tempo durou a viagem, como os aviões podem voar, etc, etc, etc.
É um mundo de troca de informação entre dois mundos completamente diferentes.
As condições da escola não são boas, considerando que não possui energia elétrica ou água encanada. Não possuem material para educação física ou artística.
As louzas estão em condições precárias bem como as carteiras.
A cozinha permaneceu desativada por 8 meses, quando o governo parou de enviar dinheiro para merenda escolar.
Este mes o governo voltou a providenciar a merenda, sem discutir os meses que se passaram.
Os professores acreditam que o governo puniu as escolas através do corte da merenda devido à greve dos professores, que ocorreu em janeiro deste ano.
Agora a situação da merenda está resolvida, contudo, quanto estávamos em Kimuka, presenciamos esta, que foi a maior dificuldade enfrentada pela escola.
Para alimentar as 500 crianças por um mes, a escola precisaria de mais ou menos Ksh35000 (R$833,00), ou seja R$1,65 por mes por criança.
A escola é em período integral. As crianças chegam às 7 horas da manhã e saem por volta das 5 horas da tarde. As aulas terminam por volta das 3 horas da tarde, mas atividades fisicas seguem depois disso.
Conversando com um dos professores, soube que por volta de 200 criancas iam pra casa durante o horário de almoço e depois voltavam para a escola. Isso significa que 300 crianças nao comiam absolutamente nada, o dia todo.
Depois de conhecermos a situação dos alunos e as necessidades da escola, pensarmos numa maneira de amenizar os problemas. Nao tinhamos como gerar o total necessário para a merenda, mas sabiamos que qualquer forma de ajuda seria um grande passo.
Por exemplo, as criancas não recebem material escolar e não têm dinheiro para comprar. Os alunos têm que comprar o testes de final de semestre que muitas vezes não sao suficientes, por falta de dinheiro. Os testes sao unificados e postos a venda em bancas, pelo governo. Faltam, giz, lápis, cadernos, uniformes, sapatos e meias.
Pensamos que uma pequena fonte de renda poderia ajudar a prover certas coisas e entao criamos o projeto Enkaji Olokunguni, o que em português significa, projeto Galinheiro. O projeto visa a produção e venda de ovos para arrecadar fundos para atender as necessidades básicas dos alunos.
Os estudantes são os responsaveis pelo projeto e são eles quem venderão os ovos e administrarão o lucro e as despesas.
Nós escrevemos o projeto todo, com detalhes para o ideal funcionamento do galinheiro. Basicamente, esperamos que, com o projeto, as crianças desenvolvam habilidades e responsabilidade administrativa e financeira através do gerenciamento de seu proprio negócio; a criação e o aperfeiçoamento da responsabilidade em relação ao trabalho; proporcionar uma visão mais ampla em relação ao futuro, no sentido de promover a percepção de oportunidade e de mudança; demonstrar a importância em ajudar e cuidar uns dos outros, como colegas, zelando pela escola e pela comunidade; aprender a trabalhar como um time e a importância do trabalho em grupo; aumentar a auto-estima e a motivação através do aproveitamento dos resultados gerados pelo projeto.
Em relação à escola, os benefícios seriam a arrecadação de fundos para a compra de material escolar; a compra de testes para os alunos; arrecadação de fundos para melhoramentos da escola, como janelas, pintura, louzas, etc.
Uma das propostas foi a compra de placas de energia solar para a implantação de lâmpadas nas salas de aula.
O entusiasmo foi geral. Os olhos brilham quando se menciona eletricidade.
A comunidade seria beneficiada através da oferta de ovos por um valor mais baixo que o de mercado além do crescimento pessoal e profissional da geração de crianças que são, na verdade, o futuro da comunidade.
Nós construimos o galinheiro e neste momento a escola possui 12 galinhas poedeiras. Dia 5 de agosto enviamos mais fundos para a aquisição de mais 50 pintinhos que em 2 meses estarao prontos para botar e entao, finalmente, o projeto se tornará autosuficiente e a venda de ovos pelos alunos começará a produzir os benefícios esperados.

 

 

 


IMIGRANTES BRASILEIROS - CAROLINE HABER

 

IMIGRANTES BRASILEIROS
 

Estava aqui imaginando como será que os jovens de Águas de São Pedro, cidade onde cresci, entendem ou percebem a saída de muitos amigos e familiares, rumo ao exterior. Não é fácil dizer adeus e se contentar com o fato de que esses amigos próximos e familiares simplesmente seguem rumo ao desconhecido, muitas vezes sem ter um planejamento completo, o domínio da língua estrangeira, e o pior, sem ter data de retorno. Imigrar pode tornar-se muito complicado. Apesar de que muitos ficam felizes em saber que o amigo está saindo do Brasil, a nova jornada pode ser muito dura. Por outro lado, a experência de “passar um tempo” fora, pode ser engrandecedora e valer muito a pena.
A história da imigração no Brasil vem de um período antigo. A imigração no Brasil vem passando por transformações desde o descobrimento do país. Durante meu mestrado, fiz uma pesquisa sobre os aspectos inerentes a essa história e gostaria de dividir com vocês. O meu objetivo é expor um pouco do que significa ser um imigrante e talvez provocar algumas discussões.
A título de exemplo, usarei os Estados Unidos porque é onde resido e onde desenvolvi minha pesquisa. Moro nos Estados Unidos desde 2005. Sou casada com um americano e moramos em São Francisco, na Califórnia. Vim para os EUA com o intuito de “passar um tempo” e a minha vida mudou completamente. O que leva um imigrante como eu a desistir da carreira no ramo do Direito, deixar a família para trás, os amigos e o conforto do lar para explorar o desconhecido? Bom, meu intuito não era o de morar permanentemente nos EUA. Nunca pretendi me tornar e nunca fui um imigrante indocumentado. Entretanto, o convite de uma grande amiga e a oportunidade de ganhar em dolar e poder explorar um país diferente por alguns meses (que se tornaram anos) me levaram a interromper os estudos para o exame da OAB e seguir rumo ao norte. Muitos imigrantes têm histórias similares à minha. Como muitos outros imigrantes, eu tive muita sorte de saber falar a língua, poder voltar a estudar, construir uma vida e uma carreira. Outros têm uma história sofrida: cruzam a fronteira do México com os Estados Unidos, correm riscos nas mãos de “coiotes”, são presos pela polícia americana, não falam uma palavra em inglês, não possuem emprego certo e antes de chegar ao seu destino, muitas vezes passam fome, frio e muitas outras dificuldades. Essas pessoas acabam trabalhando em subempregos, muitas vezes sofrem exploração no mercado de trabalho, não possuem a habilidade de desenvolver suas capacidades e não conseguem prosperar. Imigrantes de um modo geral passam por um processo de adaptação, eles compartilham similares problemas sociais, econômicos e jurídicos, saem do Brasil por motivos similares e fazem parte de um outro “Brasil” fora do Brasil: a diáspora brasileira no exterior. Mas quem são esses brasileiros, porque eles deixam seu país? Onde essa história começa? Enfim, há inúmeros detalhes intrínsecos à história da imigração de modo geral. Aqui apresento um pouco dessa história a vocês.
Quem são os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos?
A imagem do imigrante nos Estados Unidos é tida como a de um indivíduo pobre, sem instrução, camponês indocumentado, que sai de seu país rumo à única chance de poder sustentar sua família que ficou para trás. Imigrantes brasileiros, de acordo com vários estudiosos (Beserra 2003; Margolis 1994, 2009; Martes 2011; Levine 2003), se opõem a essa descrição. No final dos anos 1960, imigrantes brasileiros nos Estados Unidos eram exilados do governo militar, intelectuais e estudantes de pós-graduação que formaram pequenos grupos em Berkeley, na Califórnia, e em Nova York (Green 2010). Esses estudantes discretamente participavam de movimentos políticos contra o governo militar no Brasil. Eles eram intelectuais e estudantes muitas vezes patrocinados pelo governo militar brasileiro, bem como artistas que buscavam asilo durante a época da censura ou indivíduos que vieram voluntariamente para os Estados Unidos (Ibid).
Nas últimas duas décadas, pesquisadores em diferentes regiões dos Estados Unidos verificaram que imigrantes brasileiros são tipicamente de classe média ou classe média baixa, homens e mulheres entre 30 e 45 anos, que vieram para a América do Norte em busca de uma condição econômica que os possibilite manter seu desejado status de classe e ambições econômicas. Outros motivos incluem encontrar melhores oportunidades profissionais que pagam mais do que pagariam no Brasil.
Estudiosos também descobriram que os brasileiros são instruídos, concluíram pelo menos o ensino médio (Martes 2011) ou possuem diploma universitário (Margolis, 2009; Levine 1999). Num contexto global, as demandas da indústria de serviços motivadas por uma economia informal no país receptor, oferece postos de trabalho a imigrantes em busca de emprego. Estes postos de trabalho pagam baixos salários a imigrantes não qualificados ou semi-qualificados (Sassen 2004; Gordon 2005). Economia informal significa uma estrutura de emprego que “aceita” imigrantes indocumentados, sem qualificação, que muitas vezes não falam a língua. Portanto, de acordo com os estudiosos, imigrantes brasileiros muito frequentemente possuem empregos tais como: empregados domésticos, lavadores de pratos, babás, entregadores de pizza, etc. Por outro lado, brasileiros podem ser também imigrantes bem sucedidos, empresários, acadêmicos, estudantes, ou funcionários de corporações (Beserra 2003; Margolis 2009; Martes 2011).
Imigrantes brasileiros, no início da década de 1980, eram principalmente do sexo masculino. Esse cenário mudou, incluindo mais mulheres e famílias no início da década de 1990 (Debiaggi 2002). Este padrão é parte de um quadro mais abrangente em que mudanças históricas, como a queda da União Soviética e a ascensão do capitalismo, contribuem para a globalização, a ascensão da sociedade da informação (network society), e mudam dramaticamente a face da geopolítica global (Castells 2011). A globalização e a informação em rede favorecem a acumulação de capital em detrimento do movimento operário e do capital ligado a uma estrutura física. Esse quadro aumenta a demanda por trabalhadores sem qualificação e de baixa renda nas chamadas cidades globais (Sassen 2004). Cidades globais são cidades que representam um eixo global, uma referência, um centro econômico e de informação, onde profissionais qualificados estão conectados com o mundo através das redes de informação, as networks. Cidades globais atraem trabalhadores de baixa renda, criando uma incorporação enorme de mulheres (geralmente mulheres de cor) e imigrantes na força de trabalho (Castells 2011; Sassen, 2004). Cidades globais são, por exemplo, São Paulo, Nova Iorque, São Francisco, Tokyo, etc.
Estudos migratórios brasileiros demonstram que uma cidade chamada Governador Valadares, no estado de Minas Gerais, tem sido um grande emissora de imigrantes ao exterior. O número de saída de imigrantes dessa área para a Costa Leste dos Estados Unidos é altíssimo (Margolis 1994, 2009; Martes, 2011; Goza de 1994; Debiaggi 2002), incluindo predominantemente Massachusets e Nova Jersey. Na costa oeste, Beserra (2003) estudou duas comunidades de brasileiros na região metropolitana de Los Angeles, na Califórnia. Os resultados deste estudo indicam que os brasileiros em Los Angeles são na sua maioria do Rio de Janeiro e de São Paulo, e porcentagens menores vêm da Bahia e do Rio Grande do Sul. Dados do Consulado Brasileiro mostram que na área da Baía de São Francisco, na Califórnia, os brasileiros são na sua maioria do estado de Goiás, que é um estado predominantemente rural. Residindo na área da Baía de São Francisco e concluindo minha pesquisa aqui, foi possível definir que o consulado está correto em relação à proveniência da maioria de brasileiros nessa área. Principalmente as comunidades das Igrejas Católicas e Evangélicas são provenientes do centro-oeste brasileiro.
Estima-se que há em torno de 30 a 50 mil brasileiros somente na Baía de São Francisco. Os brasileiros nos Estados Unidos são estimados pelo Ministério das Relações Exteriores em 1,388 milhão e 123 mil somente na Costa Oeste. Os brasileiros na área da baía são responsáveis por vários tipos de trabalho que vão de colarinho branco a colarinho azul, incluindo limpeza da casa, motoristas, empreiteiros, engenheiros, acadêmicos e artistas. Mas por que os brasileiros vêm para os Estados Unidos? A sessão seguinte irá explicar a história anterior à imigração de brasileiros ao exterior. Uma história que culminou com a saída de brasileiros para os Estados Unidos e outros países, transformando o Brasil de um país de imigração em um de emigração.
Por que os brasileiros vêm para os Estados Unidos?
Historicamente, o Brasil tem sido um receptor de imigrantes de todo o mundo desde o ano de 1500. Ao longo dos anos, imigração foi altamente motivada principalmente por razões econômicas, dependendo do contexto histórico no momento. O ponto de partida da história da imigração no Brasil foi quando os portugueses colonizaram o país em 1500 e posteriormente trouxeram as pessoas que constituíram a maioria da população brasileira. A origem da população brasileira vem de várias raças, culturas, lugares do mundo, assim como outros países que foram colonizados, como os Estados Unidos.
Durante três séculos de escravidão, quatro milhões de africanos foram trazidos para o Brasil (DeBiaggi 2002), contribuindo para povoar o país e promover a diversidade cultural, suportar o desenvolvimento agrícola e a manutenção econômica das colônias. Durante a segunda metade do século XVII, funcionários portugueses em Lisboa promoveram a imigração em outros países europeus, recompensando garimpeiros que emigrassem para o Brasil. Os portugueses prometeram aos emigrantes sucesso monetário e terras, com a finalidade de aumentar a receita da coroa portuguesa (Levine 2003). Principalmente após o fim da escravidão no final dos anos 1800, os imigrantes europeus vieram para gerar receita, ou para gerar força de trabalho agrícola. Eles também vieram em momentos de construção de infra-estrutura ou industrialização, e outras vezes simplesmente para povoar o país (Levine 1999). Em um período de cem anos, de 1872 a 1972, mais de 5 milhões de imigrantes chegaram ao Brasil (Debiaggi 2002). Entre os quais vieram italianos, poloneses, alemães, libaneses, japoneses e portugueses, para trabalhar e para ocupar o Brasil ao longo dos anos (Levine 1999).
No século XX, a ditadura militar (1964-1985) expatriou muitos brasileiros: políticos, músicos, acadêmicos, jornalistas, estudantes e membros de organizações políticas clandestinas (Levine, 1999). Este período foi imerso em um sentimento de pertencimento e nacionalismo cultural embutido nos valores históricos, sociais e culturais do país. A repressão do governo militar serviu para aguçar o virtuosismo e sofisticação dos escritores brasileiros dentro e fora do país. O Brasil foi considerado um país que usa a literatura como uma fonte de consciência nacional (Levine & Crocitti 248:1999). Esta passagem mostra os valores sociais implícitos na participação de intelectuais envolvidos nas lutas políticas que se desenrolaram na época da ditadura militar. Esse tipo de expressão brasileira não ocorreu apenas na literatura; artistas da música durante a Tropicália mostravam a luta política enquanto arrastavam multidões de jovens através da consciência política e do nacionalismo cultural. Naquele tempo, os brasileiros estavam ansiosos para o retorno de seus exilados e não pensavam em deixar o país.
Verde (2010) explica que os brasileiros nos Estados Unidos durante a ditadura eram centenas, talvez milhares, e eles procuravam voltar ao Brasil a qualquer momento. Os brasileiros voltaram para o Brasil em 1979, com a anistia concedida já em tempo pelo governo brasileiro. Até meados da década de 1980, emigração era um fenômeno incomum e quase impensável de se ocorrer no Brasil (Beserra 6:2003). A emigração de brasileiros era então insignificante (Dibiaggi 2002) e brasileiros não se viam como um país de emigrantes (Beserra 2003). Após a metade dos anos 1980, houve uma mudança na mentalidade da população que foi totalmente contra as ideologias criadas pelo nacionalismo brasileiro ao longo das décadas anteriores (Ibid). Apesar de que nos anos 1960 e 1970, o crescimento econômico e eventos políticos contribuíram para o aumento gradual da emigração brasileira para os Estados Unidos e outros países. A emigração afetou não apenas o Brasil: o final do século XX transformou toda a América Latina em um continente de emigração, e não mais um de imigração (Tosta, 2005). De fato, emigração aumentou enormemente devido a uma drástica crise econômica que afetou o Brasil nos meados dos anos 1980, reduzindo as chances da classe média de manter seu status e finalmente esmagando-a. Consequentemente, a enorme crise econômica superou o nacionalismo, e cada vez mais os brasileiros começaram a deixar o país. A literatura indica que, nos anos 1990, estimou-se que 600 mil brasileiros estavam vivendo nos Estados Unidos. Em 2000, 800 mil (Margolis 2009; Beserra 2003; Martes 2011) e, em 2011, o governo brasileiro estimou que os brasileiros nos Estados Unidos eram 1,388 milhão (MRE 2011). Obviamente, a população no exterior tem crescido significativamente nas últimos décadas. A crise econômica dos anos 1980 não pode ser considerada por si só a responsável pela emigração brasileira. No entanto, ela foi a principal representação do momento histórico em que a saída de brasileiros do país é mais notável.
Levine (1999) afirma que muitos brasileiros ultrapassam seus vistos para trabalhar e acumular capital suficiente para então voltar ao Brasil e começar seus próprios negócios (Levine 181: 1999). Neste sentido, Beserra (2003) explica que a emigração brasileira começou a partir de uma nova onda de pessoas de classe média à procura de oportunidades de emprego em outros países. Esta evasão está diretamente relacionada a incapacidade do Brasil de oferecer um mercado de trabalho dinâmico para trabalhadores qualificados. Estudiosos muitas vezes explicam que os brasileiros emigram a procura de emprego ou por outras razões sócio-econômicas (Margolis 1994; Goza, e Vendas, como citado em Beserra 2003; Debiaggi, 2002).
No entanto, Beserra (2003) contesta o argumento de que os brasileiros migram para melhorar suas vidas, chamando-o de “suposição inocente” (12: 2003). Por outro lado, Margolis (2009) e Martes (2011), explicam que os motivos econômicos ainda são o que impulsionam brasileiros para fora do Brasil. A análise de Beserra argumenta que o Brasileiro não sai do país simplesmente para “melhorar de vida”. Beserra (2003) vê a emigração brasileira como uma tentativa de alcançar diferentes tipos de capital. Isso significa não só razões econômicas relacionadas a necessidades materiais, mas também a necessidade de manter seu status de classe ou sustentar as suas necessidades de consumo, ou até mesmo a necessidade de “re-inventar” ou “atualizar” suas identidades (Ibid 11: 2003). Finalmente, ela define os diferentes tipos de capital procurados por imigrantes brasileiros: o econômico, o social, o tecnológico e o simbólico. Por exemplo, entre o diferentes tipos de capital estão: ganhar dinheiro, estudar, encontrar melhores oportunidades e manter o status de classe, juntamente com o capital simbólico de aprender Inglês, viajar, ou simplesmente viver em um país diferente.
Além disso, Beserra (2003) afirma que o imperialismo americano, o consumismo e o capitalismo como modo de vida aguçaram o desejo dos brasileiros de viver no exterior. A estudiosa se destaca no mundo acadêmico pela polêmica discussão sobre a influência do imperialismo norte-americano e da expansão capitalista na cultura dos brasileiros. A criação de padrões de consumo e modernidade provenientes dos Estados Unidos pode ter influenciado os brasileiros a emigrar. Beserra (2003) aponta que, apesar de não apresentar dados científicos para provar seu argumento, a ligação entre o imperialismo americano e o consumismo com brasileiros e emigração brasileira, deve ser considerada. Em suas próprias palavras, “... os sonhos que trouxeram e continuam trazendo brasileiros para os Estados Unidos estão intimamente vinculados à impossibilidade de realizar em casa os ideais de consumo materiais e culturais promovidos pelos Estados Unidos” (Ibid 13: 2003). Como a capital capitalista do mundo globalizado, os padrões estabelecidos pelos Estados Unidos são, portanto, idealizados como algo a se alcançar, como algo a se desejar: como a “realização mais completa da modernização” (Ibid).
Margolis (2009) afirma que emigração não é um fenômeno isolado e ocorre como parte de um processo global em que os países industrializados possuem uma vantagem econômica enorme em relação aos países menos industrializados. No entanto, enquanto imigração é uma fenômeno globalizado internacional, ela não garante que os imigrantes encontrarão o que procuram, ou assegurarão a realização de seus sonhos de obter todos os tipos de capital ou mesmo um estilo de vida moderno (Beserra 2003). Margolis (2009) afirma que os brasileiros não são “inteiramente felizes” nos Estados Unidos. Por conseguinte, quase sempre procuram emigrar por um dado período de tempo que seja o suficiente para acumular capital que lhes permita realizar sonhos econômicos no Brasil. Outros estudiosos no campo de estudos migratórios brasileiros (Beserra 2003; Martes 2011; Debiaggi 2002) argumentam que os brasileiros sempre sentem saudade de seu país de origem e não apenas imaginam, mas planejam voltar para Brasil. A motivação para vir para os Estados Unidos, como melhorar oportunidades de salários ou proporcionar uma vida melhor aos familiares, não corresponde à motivação para permanecer nos Estados Unidos definitivamente.
Entender a história da imigração no Brasil não só resgata o sentimento de nacionalismo, mas também nos faz questionar a nossa atitude em relação ao nosso próprio país. Muitas pessoas saem de seu país para o exterior, em busca de conhecimento e especialização somente para voltar ao seu país e aplicar suas habilidades. Outras, saem de seu país para trabalhar em subemprego e acumular dinheiro. Estes geralmente vivem fora de seu país e nem mesmo aprendem a língua estrangeira. Há muitas perguntas neste artigo, que ainda requerem respostas. Ainda, seja qual for a motivação para sair do país ou para permanecer fora do Brasil, há sempre um sentimento de saudade, de distância; e há uma necessidade de pertencimento enorme que muitas vezes é preenchida pela Igreja e por outras organizações onde os brasileiros procuram acolhimento. Há muitos outros assuntos relacionados que gostaria de expor aqui. Entretanto, encerro este artigo deixando a vocês várias idéias para discutir e refletir.
Até a próxima!


Caroline Haber


San Francisco, 7 de julho de 2012.

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